terça-feira, 1 de julho de 2008

importancia do mapa de risco

A representação dos riscos ocupacionais ganha importância no País com a nova legislação da área de saúde do trabalhador que exige das empresas a implantação do Programa de Prevenção de Riscos Ambientais, incluindo a obrigatoriedade da elaboração de mapas de riscos (MT, 1994). Proposto pelos operários italianos no final da década de 60, na metodologia que ficou internacionalmente conhecida como Modelo Operário, o mapa é a expressão gráfica da distribuição dos riscos ocupacionais em um processo de trabalho particular. Utilizando círculos com diferentes cores e tamanhos, o mapa resume os riscos presentes nos locais de trabalho. As cores dos círculos indicam os grupos de riscos segundo sua natureza, por exemplo, físicos (ruído, vibração e altas temperaturas), químicos (substâncias químicas e fumaças), e o tamanho indica a importância destes riscos no local de trabalho (Odonne, 1977; Laurell, 1984; Facchini et al., 1991; Facchini, 1994).
Em Pelotas, o método vem sendo utilizado desde 1989, especialmente em função de estudos desenvolvidos em colaboração com os trabalhadores e suas organizações sindicais (Facchini et al., 1991; 1992a e b; 1993a e b; 1995a e b). Neste período, processou-se uma adaptação de seus princípios basilares, principalmente em função da necessidade de padronização dos dados de seis processos de produção diferentes, no estudo da indústria da alimentação (Facchini, 1993). À semelhança do modelo original (Oddone, 1977) e de suas adaptações acadêmicas (Laurell, 1989) ou legais (MT, 1994), na representação gráfica dos riscos ocupacionais, utilizaram-se primeiramente figuras geométricas com cores e tamanhos distintos conforme a natureza e a intensidade destes riscos (Facchini et al., 1992a e b). Entretanto, observou-se que estas figuras tinham pouco significado para os trabalhadores. Além disso, ao classificá-los segundo sua natureza, agrupa-se em uma mesma figura riscos com impactos diferentes sobre a saúde, havendo uma perda no detalhamento ou na especificação da exposição.
Por esta razão, desenvolveu-se uma iconografia que, partindo da visão dos trabalhadores, procura não só facilitar a compreensão dos riscos ocupacionais, mas também representar de modo mais preciso as exposições identificadas. Neste artigo, serão apresentados o processo desenvolvido e os resultados obtidos, ou seja, os ícones que estão sendo utilizados para representar os riscos ocupacionais na indústria da alimentação de Pelotas.


Metodologia

O processo de construção dos ícones desenvolveu-se em três etapas, com a participação de sessenta trabalhadores que procuraram os serviços de saúde e de assistência jurídica do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias e Cooperativas da Alimentação de Pelotas, no primeiro semestre de 1992.
As duas primeiras etapas foram dedicadas ao desenvolvimento propriamente dito dos ícones, sendo realizadas em grupos com três trabalhadores. A etapa final foi dedicada à avaliação individual pelos trabalhadores dos ícones desenvolvidos. Nas três etapas foi fornecida a seguinte informação aos trabalhadores: "Estamos fazendo um estudo para avaliar os riscos à saúde do trabalhador. Assim, queremos criar figuras para estes riscos de forma que qualquer trabalhador, ao vê-las, possa saber o seu significado".
A seguir estão descritos os processos desenvolvidos e os resultados obtidos em cada uma das etapas.

Primeira etapa: captando sugestões para ícones

Nesta etapa, apresentou-se uma lista com os riscos ocupacionais identificados no estudo sobre a indústria da alimentação a seis grupos de três trabalhadores, formulando-se a seguinte solicitação: "Gostaríamos que tu desses a tua idéia sobre como representar estes riscos".
A partir da discussão nestes grupos, reuniram-se as várias sugestões para cada um dos 25 riscos apresentados, formando-se um banco inicial de 47 imagens. Um desenhista participou das reuniões para melhor captar as sugestões dos trabalhadores, que foram cuidadosamente desenhadas em tamanho 10 por 12 centímetros.

Segunda etapa: selecionando ícones

Apresentaram-se as imagens esboçadas na etapa anterior a outros seis grupos de três trabalhadores. A solicitação foi a seguinte: "Gostaríamos que tu desses a tua idéia sobre o que cada figura significa". Nesta etapa, procurou-se selecionar, dentre os ícones elaborados, aquele com maior significação para cada carga entre os operários entrevistados.
Após a seleção dos ícones mais significativos, estes foram redesenhados e padronizados, buscando-se aprimorar sua capacidade de comunicação. A seguir, foram digitalizados em microcomputador através de um scanner de mão, reduzindo-se seu tamanho a 2 cm2 no software Corel Draw. Estas dimensões foram consideradas adequadas para a visualização dos ícones em mapas de riscos destinados à apresentação como pôster ou mural.

Terceira etapa: Correlacionando ícones e riscos

Os ícones selecionados na segunda etapa foram apresentados em planilhas a 24 trabalhadores. Solicitou-se que cada um correlacionasse os ícones constantes em uma coluna com as denominações dos riscos ocupacionais registrados em outra. A solicitação foi a seguinte: "Gostaríamos que tu tentasses relacionar as figuras com os riscos".
Nesta fase, foram definidas as figuras a serem utilizadas, uma vez que os trabalhadores reconheceram satisfatoriamente os ícones propostos.
Em seguida, foi realizada a finalização gráfica com a padronização da figura humana e do tamanho do desenho e retirada de elementos desnecessários à compreensão das figuras.
Os ícones foram impressos em serigrafia. Utilizou-se papel adesivo, para que o próprio trabalhador pudesse colá-los no mapa de riscos durante as reuniões do Modelo Operário.
Para caracterizar a intensidade dos riscos ocupacionais vêm sendo utilizadas as cores rosa, para exposição alta; violeta, para intermediária e lilás, para baixa. Estas cores são expressas na linha do desenho, em um fundo branco fosco.
Também foram impressos ícones com 1 cm2, para mapas em tamanho ofício utilizados em relatórios técnicos ou publicações.

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